Bauman e a democracia global

Ainda sobre o primeiro encontro (11.04.2018), assistimos a uma entrevista com o importante filósofo Zygmunt Bauman para o projeto Fronteiras do Pensamento. Ele, que faleceu recentemente, em 9 de janeiro do passado ano, muito nos fala sobre as conexões sociais na sociedade contemporânea.

Citando Sartre e o seu "projet de la vie", explica que na sociedade pós-moderna temos "dificuldade de saber o que vai acontecer conosco no próximo ano", imagina acreditar em um projeto pra uma vida inteira. É esse dinamismo que está a frase de Lennon: "A vida é o que acontece enquanto a gente faz outros planos".

Tendo como escopo a sociedade do nosso tempo, Bauman não consegue dizer se essa pós-modernidade é o início de uma nova forma de vida, ou se é uma fase de transição para outro tipo de ordem social. "Essa é a primeira vez na história em que o mundo é realmente um único país, em certo sentido". E que é preciso que se crie um modelo de democracia global em algum momento, pois a estrutura do estado nação já não consegue mais atender as necessidades de um mundo que de todos.

Sobre os laços humanos, o filósofo polonês radicado na Inglaterra entende que a amizade construída numa rede social é diferente da que nasce em uma comunidade. Enquanto a segunda é mais sólida, a primeira é um tanto líquida. Segundo ele, o homem pós-moderno vive em uma situação ambígua e curiosa de um solitário numa multidão. "Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo".

Se referindo ao seu livro "A arte da vida", sobre a felicidade, conclui afirmando que existem "dois fatores relativamente independentes que dão forma à vida humana. Um é o destino e o outro é o caráter. O destino oferece uma gama de opções que são realistas pra você. Mas as escolhas são feitas pelo caráter". Portanto, seja ético e correto para com todos e tenha metade do bilhete para a felicidade. Pois, "para cada ser humano há um mundo perfeito feito especialmente para ele ou para ela".